Mesmo quem não gosta muito de esportes provavelmente já viu na TV uma cena emblemática: nos Jogos Olímpicos de Verão de 1984, uma maratonista já totalmente desidratada e desorientada pela ação do calor supera seus limites e consegue terminar a prova, cambaleando e quase caindo. Esta atleta é Gabrielle Andersen, que virou símbolo do espírito olímpico e mostrou que o esporte serve, também, para superar desafios particulares, indo muito mais além do que uma simples competição entre atletas.
Esta foi justamente a primeira maratona olímpica feminina, vencida pela estadunidense Joan Benoit. Nesta época, Gabrielle Andersen já estava com 39 anos de idade e sabia que esta seria sua primeira e única oportunidade de competir em uma maratona olímpica. Longe de ser considerada uma favorita à conquista de medalha, Gabrielle tinha como meta pessoal conseguir finalizar a prova, para que pudesse guardar de recordação este momento tão único em sua carreira.
Mesmo com um desgaste imenso, Gabrielle caminhava para conseguir o feito, quando começou a sentir fortes cãibras na perna esquerda, devido à alta temperatura (30ºC) e o forte desgaste físico. Quando faltavam ainda pouco mais de 200 metros para o fim da prova, as dores aumentaram e Gabrielle mal conseguia parar em pé; metade de seu corpo já encontrava-se paralisado. Para surpresa de todos, a atleta suíça recusou atendimento médico e insistiu em terminar a prova, mesmo correndo riscos de adquirir sequelas para o resto de sua vida. Cambaleando e nem conseguindo andar em linha reta, Gabrielle Andersen demorou cerca de 10 minutos para conseguir concluir estes 200 metros restantes, ou seja, cerca de 15 vezes a mais do tempo que gastaria normalmente.
Entretanto, neste momento o tempo a ser gasto na conclusão da prova não importava mais. Ao cruzar em 37º lugar (num total de 44 corredoras), a maratonista foi aplaudida de pé pelo estádio inteiro, emocionando até mesmo os mais frios espectadores deste dia. Assim que cruzou a linha de chegada, caiu desmaiada e os paramédicos conseguiram prestar socorro a ela. O esforço de Gabrielle não fica restrito como uma memória da história dos Jogos Olímpicos. Serviu, também, para mudar as regras. A partir deste episódio passou a ser possível um maratonista receber assistência médica sem ser desclassificado, desde que não seja transportado ou ajudado a deslocar-se.
Até os dias de hoje poucos se lembram da vencedora oficial da maratona (Joan Benoit), todavia ninguém nega que os maiores vencedores deste dia foram Gabrielle Andersen-Scheiss e o espírito olímpico. O vídeo abaixo mostra o momento histórico, além de uma entrevista com a atleta, 19 anos depois do ocorrido.
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